terça-feira, 26 de agosto de 2014

O Drama dos Yazidi

Se você acompanha as notícias do Oriente Médio, em especial sobre a expansão territorial do grupo ISIS - Islamic State of Iraq and Syria, conhecidos também como somente IS - Islamic State, deve ter ouvido falar dos Yazidi, minoria étnica Iraquiana que se viu encurralada no Monte Sinjar, sem comida nem água.

Neste artigo, trago a você leitor do blog, mais informações sobre quem são os Yazidi.

Nota: A partir de agora chamaremos o ISIS somente de Estado Islâmico.

Drama Humanitário no Monte Sinjar
Estima-se que dezenas de milhares de Yazidi conseguiram escapar para o Curdistão das garras do grupo Jihadista Estado Islâmico, deixando tudo para trás e caregando somente as roupas do corpo e poucos pertences em sacolas plásticas. Parte encontra-se, ainda, nas localidades Norte do Iraque onde estariam sendo executados, convertidos ao Islã ou feitos de escravos pelo Estado Islâmico.

Outros 50.000 estariam já há alguns dias encurralados no Monte Sinjar, com pouquissímo acesso a água e comida. Mantimentos como água e comida chegam aospoucos jogados por aviões dos Estados Unidos, Inglaterra, Turquia, Iraque e Curdistão. Porém, devido o relevo montanhosos, muitos grupos Yázidis estão espalhados, e os mantimentos não alcançam a todos, agravando ainda mais a situação.

A jornada ao Monte Sinjar foi extremamente difícil. Dias e dias sobre o solo quente de verão, sem comida e água suficiente para todos. Centenas de pessoas morreram de desidratação. Outra centena de maioria mulheres e crianças foram raptadas pelo Levante Islâmico e provavelmente viraram escravos.


Yazidi fogem do EI para o Curdistão (Crédito: Ari Jalal/Reuters)

Origem
Embora os Yazidi estejam passando por um verdadeiro drama humanitário no Monte Sinjar, esta não é a primeira vez que eles sofrem perigo de genocídio. A tradição Yazidi costuma dizer que houveram na história 72 tentativas de genocídio. A mais recente remonta da metáde do século XIX, onde os Yazidis foram perseguidos religiosamente pelo império Otomano.

Eles não são nem árabes, nem Curdos, embora a maioria utilize o idioma Curdo em sua comunicação. Alguns estudiosos apontam que os Yazidi têm origem em tribos indo-européias e teriam se estabelecido no Nordeste do Iraque pelo Shaik Adi Ibn Musafir, descendente do califa Omeya Mawan, no século XII.

Eles têm vivido por séculos isolados geograficamente em pequenas vilas aos arredores do Monte Sinjar no Nordeste do Iraque e na cidade de Sinjar.

Religião

A religião dos Yazidi é secular e complexa. Tem uma mistura de elementos Islâmicos, Cristãos e de outras religiões ancestrais persas, além de capturar elementos do Mitraísmo, uma religião mística originada no Leste do Mediterrâneo. Esta combinação de religiões que levam os muçulmanos mais tradicionais a condená-los por heresia e a chamá-los de "adoradores do demônio".

A figura divina máxima dos Yazidi é o anjo caído Melek Taus que teria como papel principal intermediar entre os homens e um Deus único. A tradição religiosa é passada de geração para geração oralmente, não havendo um livro único que concentre os dizeres religiosos, como é o caso de outras religiões como a Cristã, Islâmica ou Judáica.

Semelhantemente ao Judáismo, o a religiãoYazidi não é de conversão, você nasce e morre Yazidi. Com isso as comunidades se fecharam nas proximidas da cidade de Sinjar e se afastaram de uma integração com o estado Iraquiano, que tem como maiores grupos religosos os árabes sunitas e xiitas.

Durante o período de Saddam Hussein
O ditador Iraquiano Saddam Hussein, que se popularizou no Ocidente por invadir o Kuwait no que culminou na Guerra do Golfo Pérsico, foi responsável por uma tentativa de arabização das minorias étnicas do Iraque, principalmente contra os Curdos.

Durante este período, Yazidi que viviam nas montanhas do Nordeste Iraquiano foram forçados a migrar para os centros urbanos, perdendo a identidade rural e o isolamento geográfico responsável por manter por séculos as tradições culturais e religiosas deste povo. A maioria foi forçada a migrar para a cidade de Sinjar, construída por Saddam Hussein.


Familias inteiras escapam de Sinjar, Iraque (Crédito: Reuters)


Período de Transição dos EUA para o atual Governo de Bagdá
Depois da queda de Saddam Hussein em 2003, o exército Americano acompanhou o período de transição de poder político para um novo Governo estabelecido em Bagdá. Este novo Governo seria composto pela minoria árabe xiita sob o controle do primeiro ministro Malik. O que acarretaria em forte oposição da maioria sunita e de outros grupos minoritários, como os Curdos.

Com isso, os Curdos conseguiram uma maior autonomia na região Nordeste do Iraque, protegida pelos interesses norte-americanos. Porém nada foi feito quanto aos Yazidi e a região aos redores do Monte Sinjar. Anteriormente a invasão do Levante Islâmico à região, a mesma já era alvo de disputas entre Curdos e o Governo de Bagdá.

A grande oposição Sunita ao Governo de Malik implicou na segmentação do Iraque onde o grupo Levante Islâmico conseguiu facilmente dominar as regiões Norte do país.

A esperança Yazidi
Os Yazidi sofrem com o avanço do Levante Islâmico em direção região nordeste do Iraque. Aqueles que conseguiram fugir ao Curdistão, deixaram para trás tudo o qeue tinham, se distanciando dos laços culturais com as terras sagradas do Monte Sinjar para se juntar aos milhares que se refugiaram nas ruas do Curdistão.

Os que ficaram isolados na cidade de Sinjar, a esta altura foram totalmente brutalizados pelo Levante Islâmico, tornando-se escravos ou sendo forçados a integrar a milícia.

As dezenas de milhares de Yazidi que se encurralaram no Monte Sinjar tentam desesperadamente sobreviver com o escasso acesso a água, comida e remédios, e torcem esperançosamente por uma intervenção externa, dos Curdos ou do Governo de Bagdá.

Atualização
Parece que a entidade divina Melek Taus ouviu as preces Yazidi. Últimas notícias apontam que tropas Curdas conseguiram escoltar 20.000 Yazidis para o Curdistão, auxiliados pelo bombardeio aéreo dos Estados Unidos que manteve as forças do Levante Islâmico à distância. Também, centenas de crianças e idosos foram resgatados por helicópteros Curdos e Iraquianos. Porém, estima-se que 20.000 Yazidi ainda encontram-se encurralados no Monte Sinjar.


Por: Daniel Rabetti

Daniel Rabetti é professor assistente na Interdisciplinary Center Herzliya e escreve para os Jornais The Jerusalem Post e Times of Israel. Alguns de seus artigos foram publicados em blogs, revistas e jornais no Brasil.

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Blog: ultimasdoorientemedio.blogspot.co.il/



Créditos das fotos:
1) http://www.cbc.ca/news/world/iraq-conflict-hundreds-of-yazidi-women-reportedly-captured-by-isis-1.2731561
2) http://www.ibtimes.co.in/isis-executes-yazidi-men-kidnaps-children-takes-women-jihad-marriage-606110

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